Retrato em Branco e Preto

Já conheço os passos dessa estrada,
sei que não vai dar em nada.
Seus segredos sei de cor.

Já conheço as pedras do caminho
e sei também que, ali, sozinho,
eu vou ficar — tanto pior.

O que é que eu posso contra o encanto
desse amor, que eu nego tanto,
evito tanto
e que, no entanto,
volta sempre a enfeitiçar?

Com seus mesmos tristes, velhos fatos,
que, num álbum de retratos,
eu teimo em colecionar.

Lá vou eu de novo, como um tolo,
procurar o desconsolo
que cansei de conhecer.

Novos dias tristes, noites claras,
versos, cartas... Minha cara,
ainda volto a lhe escrever

pra lhe dizer que isso é pecado.
Eu trago o peito tão marcado
de lembranças do passado,
e você sabe a razão.

Vou colecionar mais um soneto,
outro retrato em branco e preto,
a maltratar meu coração.